Chapter Capítulo 13
Capitulo 13
Flávia Almeida desligou o ventilador, passando os dedos pelos cabelos meio secos, e tirou sarro: “Você deveria ter seguido carreira como atriz, não como roteirista.”
Francisca Ferreira tocou o pacote com cuidado, rangendo os dentes: “Hoje vou dormir com essa belezinha e sonhar que sou ricaça!”
“Fica à vontade, mas antes tira umas fotos bacanas pra mim.”
Francisca virou–se e perguntou: “Pra qué fotos? Pra postar no Face e fazer a alta sociedade morrer de inveja?”
“Que nada.”, respondeu Flávia, sentando–se: “Eu estou querendo vender.”
“O qué?”
“É, amanhã eu vou resolver as papeladas do divórcio com o Marcelo Lopes. Quero comprar um apartamento depois que me separar, de preferência perto do Centro Médico Luz da Vida. daqueles que é só entrar e morar, pra eu ficar perto da minha mãe. Os que eu vi por lá que gostei são caros, e com a grana que eu tenho, vai ficar apertado. Pra piorar, hoje o pessoal de A Guerra dos Tronos me avisou que eu não passei no teste. Então, depois do divórcio, vou precisar de dinheiro, e essa bolsa vale mais pra mim em dinheiro vivo.”
“Não passou no teste?“, Francisca ficou incrédula: “Mas eles não tinham praticamente confirmado você? Só faltava assinar o contrato e pediram pra você voltar depois pra formalizar. Que história é essa agora?”
“Eu também questionei, e a desculpa que me deram foi que um dos chefes não gostou da minha voz. Talvez acharam madura demais.”
“Bobagem! Algum safado deve ter entrado por outra porta! Como assim muda tudo de última hora? Sabe quem eles contrataram no seu lugar? Vou acabar com essa pessoa!”
*Deixa pra lá, não tinha nada assinado e nem gravado, vou considerar que tive azar.”
Mas Francisca ainda estava indignada, desfiando um rosário de xingamentos contra o tal “safado“, e também contra Marcelo Lopes: “Você é mole demais. Se fosse comigo, eu já tinha achado provas da traição dele. Nem que não fosse pra deixar ele na rua, mas pelo menos arrancava a pele dele!”
“Que seja como for,“, Flávia baixou os olhos: “já não me importa.”
As palavras de Marcelo Lopes naquele dia e o fato de tê-la deixado na rua haviam aberto seus olhos para a realidade. Agora, ela só queria se divorciar e encerrar de vez aquela relação.
Francisca não sabia como confortá–la e acabou dando–lhe um abraço apertado: “Olha, não faltam uns caras bonitos e ricos no meu rolê. Pode deixar que eu te arranjo um que é puro luxo, só pra matar o Marcelo Lopes de raiva!”
Flávia riu chorando: “Primeiro quero me estabilizar financeiramente. Depois, com minha grana,
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Capitulo 13
eu escolho quem eu quiser. Não vou mais deixar ninguém me escolher.”
Na manha seguinte, Flávia acordou tarde, talvez por causa da chuva do dia anterior, sentindo uma leve tontura.
Olhou–se no espelho por um tempo até se lembrar que era o dia do divórcio e começou a se arrumar com capricho.
Lembrou–se de como tinha sido às pressas o dia em que se casou com Marcelo Lopes.
Foi na semana anterior à sua defesa de tese, depois de uma noite acordada revisando seu trabalho. Ao amanhecer, mal havia pegado no sono quando o telefone de Marcelo a despertou. Antes desse dia, Marcelo só a tinha visto três vezes. A ligação foi inesperada, deixando–a sem chão. Entre resmungos sonolentos da colega de quarto, ela correu para o banheiro e atendeu.
“Tá livre?”
A voz de Marcelo era fria, mas naquela época, provavelmente cega de paixão, ela achou al coisa mais linda. Respondeu baixinho: “Tô.”
“Então eu passo aí pra te pegar.”
Seu coração disparou, e ela gaguejou: “Pra onde a gente vai?”
Marcelo Lopes parecia estar dirigindo, ela ouviu o som do motor e depois a voz dele dizendo: “bora tirar o papel passado.”
O dia inteiro ela andou meio zonza, fez tudo direitinho como ele mandou, vestiu a camisa branca, com medo de que ele mudasse de ideia na última hora, nem se preocupou em passar uma maquiagem, e foi com ele tirar o bendito documento.
Foi tudo na maciota, a foto para o certificado de casamento até parecia coisa de brincadeira, Marcelo Lopes nem se deu ao trabalho de esboçar um sorriso, só ela que estava toda faceira, parecendo até meio boba de tão feliz.
Um começo desses, desencanado, não merecia um fim tão maluco.
Ela se olhou no espelho, deu uma ajeitadinha no batom, o vermelho destacando seu sorriso vivo e encantador.
Decidiu que ia sair de cena com dignidade, por um ponto final nessa paixão que acabou sem nem começar direito.
Eram duas e meia da tarde quando Flávia Almeida estava a caminho do cartório, quando de repente, seu celular tocou. Era o hospital Centro Médico Luz da Vida com a noticia bomba – a mãe dela tinha tido uma parada cardíaca!
Flávia sentiu o peito apertar e na mesma hora deu meia–volta, rumo ao Centro Médico Luz da Vida.
Quando chegou, a mãe ainda estava sendo reanimada na sala de emergência, e os médicos
the entregaram uma papelada dizendo que a situação era critica. Suas mãos tremiam enquanto ela assinava.
Anos a tio assinando esses documentos, e cada vez era como se estivesse se afogando, sem ar, sem saber se aquela assinatura seria a última.
Depois de assinar, ela ficou desnorteada, até que lembrou de ligar para João Almeida.
“Pai, a situação da mãe está tela, bora pro hospital.“, Ela tentou manter a calma, mas a voz dela tremia.
Do outro lado da linha, o barulho denunciava a correria: “To num compromisso aqui, não consigo sair agora.”
Flavia apertou o telefone com força: “Os médicos disseram que ela pode não resistir, talvez seja a última chance de vê–la.”
“Aquela ladainha de sempre, desde sels anos atrás. É você que não quer desistir! Achal mesmo que ela está vivendo nesse estado?”
Flávia sentiu os olhos marejarem: “Então o que o senhor está dizendo?”
João Almeida desconversou: “Depois te ligo.“, E desligou sem dar chance de resposta.
Ela se sentou no chão do corredor, sentindo um vazio enorme, olhou para a sala de cirurgia. com lágrimas caindo sem parar.
O celular tocou, era Marcelo Lopes.
Como se agarrasse a uma bola salva–vidas, ela atendeu rapidamente: “Marcelo Lopes, minha mãe… acho que vai partir.”
“Flávia Almeida, está me zoando? Não era pra gente assinar o divórcio? Onde está você?”